Visão geral, contexto e pilares 

A 27ª edição da Conferência das Partes da UNFCCC, comumente conhecida como COP 27, aconteceu em Sharm El Sheikh, na costa egípcia no Mar Vermelho. 

Durante essas duas semanas, como nos anos anteriores, líderes mundiais da política, negócios e organizações internacionais se reuniram para discutir novos acordos para enfrentar as mudanças climáticas. Este ano algo foi diferente para o agronegócio mundial, a COP 27 introduziu em sua agenda temas relacionados à agricultura e indústria de alimentos, que não haviam recebido atenção especial na reunião anual. 

As seções abaixo descrevem quais foram os temas gerais da conferência do clima deste ano e, em seguida, enfocam quais compromissos foram assumidos pelos participantes em relação ao sistema de produção de alimentos para mitigar e reverter as mudanças climáticas. 

Os objetivos delineados durante a cúpula foram principalmente três: 

• Mitigação do aquecimento global, que precisa ser mantido bem abaixo do limite de 2 graus, conforme estabelecido pelos acordos de Paris. Além da prevenção, a COP 27 também incluiu a adaptação entre suas metas. Como a mudança climática causa fenômenos meteorológicos cada vez mais extremos, os países precisam atingir um nível sistemático de preparação; 

• ênfase no apoio a 'perdas e danos', responder a tensões induzidas pelo clima requer financiamento. O financiamento climático deve crescer, ser adequado e, acima de tudo, acessível também às nações em desenvolvimento; 

• a colaboração é fundamental, pois as negociações devem envolver um número cada vez maior de partes interessadas. A COP 27 olhou não só para os governos, mas também para o setor privado e a sociedade civil, verdadeiros “stakeholders” no desenvolvimento rápido e unânime de soluções amigas do clima. 

 

Um ponto de mudança para a alimentação e a agricultura? 

A agenda da COP, como mencionado anteriormente, tem sido até agora dominada por questões financeiras e ambientais, em parte ignorando a agricultura e a indústria de alimentos. A COP 27 representa um divisor de águas ao disponibilizar um espaço inteiramente dedicado ao tema da segurança alimentar: o “Pavilhão do Sistema Alimentar” criado pela FAO. 

Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, abordou a questão de fornecer alimentos suficientes em nosso planeta enquanto lida com o aumento do estresse climático: 

“A relação entre nutrição e mudança climática é um desafio, mas também uma oportunidade... Devemos implementar a Iniciativa de Ação Climática e Nutrição para um futuro mais saudável, seguro e sustentável para nossos filhos e netos”. 

No dia 12 de novembro de 2022, foi realizado o "Dia da Adaptação e Agricultura". Este foi o primeiro evento sobre sistemas alimentares e acontecimentos relacionados ao clima que resultou no lançamento de dois programas ambiciosos, FAST e I-Can. 

FAST, é o acrônimo de Food and Agriculture for Sustainable Transformation Initiative. É uma plataforma de cooperação, impulsionada pela ONU e pela FAO e aberta a uma abordagem de partes interessadas múltiplas. Os três pilares identificados para a sua implementação são: 

• acesso inteligente ao financiamento, de forma a identificar rapidamente o financiamento do investimento.

• a importância do know-how e da capacidade de desenvolver diretrizes voluntárias para tornar o setor mais sustentável.

• a integração de sistemas do agronegócio, por meio de assessorias técnicas para transferência de conhecimento e compartilhamento oportuno de melhores práticas e resultados de alta qualidade. 

 

Já o I-CAN tem os mesmos objetivos, mas foca mais na segurança alimentar e na resolução da desnutrição, que ainda afeta 828 milhões de seres humanos. O programa enfatiza a importância da transferência de dados e desenvolvimento agrotecnológico. As partes envolvidas se comprometeram a apresentar relatório até 30 de junho de 2023, e o programa será reavaliado na COP 28. 

Além disso, uma coalizão de investidores de US$ 18 trilhões liderada pela Iniciativa FAIRR de Jeremy Coller mobilizou com sucesso a FAO com a tarefa de estabelecer um roteiro para aconselhar o setor agrícola e de alimentos sobre como a indústria pode permanecer dentro de um caminho de 1,5°C, atendendo à demanda por alimentos e protegendo a natureza. 

 

Um precedente para desenvolvimentos futuros 

Em 2021, um terço das emissões globais veio da agricultura e da cadeia de abastecimento alimentar. É vital que as agendas das grandes cúpulas do clima passem a focar seriamente na agricultura em conexão com as mudanças climáticas. A COP 27 abriu precedente, estabeleceu metas e momentos de monitoramento obrigatório. 

A COP deste ano foi apelidada de COP de acompanhamento, pois já havia compromissos urgentes a serem cumpridos na COP 26 em Glasgow. No que diz respeito à agricultura, a COP deste ano foi um ponto de partida para mobilizar líderes e países para o desafio de uma população crescente e pressão sobre o abastecimento de alimentos, tudo em um cenário de aquecimento climático. 

A expectativa é que a agricultura continue ocupando um lugar de destaque nas discussões sobre adaptação e mitigação do clima, como eloquentemente colocou João Campari, líder global da área de alimentação do WWF: 

“Podemos eliminar gradualmente os combustíveis fósseis, mas não podemos eliminar gradualmente os alimentos, então temos que transformar os sistemas de produção de alimentos”.